domingo, 1 de março de 2009

Como funcionam as construções sustentáveis

textos: Fernando Bussoloti

Introdução

Construções bioclimáticas, arquitetura sustentável, ecovilas, green buildings, bioconstrução, permacultura, construção ecológica, empreendimentos verdes são temas bastante discutidos hoje, com a preocupação cada vez maior com as questões ambientais. Parecem ter sido inventados há pouco tempo, porém, muito do que permeia tais conceitos vem sendo utilizado pelo ser humano desde os primórdios.

Das primeiras cabanas aos grandes arranha céus, o homem sempre aproveitou o meio a favor de seus ambientes construídos. Hoje, o apelo ecológico é tão forte que, de tanto o homem extorquir a mãe natureza, às vezes nos perguntamos se mesmo trancados em casa, estamos contribuindo para alguma degradação ambiental.

Na verdade, não estamos contribuindo somente em nossas casas, mas em nossos escritórios, hospitais, escolas, cidades, ou seja, em todos os espaços construídos por nós. Mesmo trancado no quarto, o ambiente, a soma de equipamentos, a quantidade de esforço e energia empregados na construção deste, geram ou geraram algum tipo de decréscimo na natureza.

De todas as atividades praticadas pelo ser humano, a construção civil é uma das que mais tem impacto no meio ambiente. No Brasil aproximadamente 40% da extração de recursos naturais têm como destino a indústria da construção. Fora isso, 50% da energia gerada são para abastecer o funcionamento das edificações e 50% dos resíduos sólidos urbanos vêm das construções e de demolições.

Quase toda água que entra em nossas casas, sai sem ser reaproveitada e ainda, levando consigo algum tipo de poluente. Essa água segue o caminho e geralmente acaba indo para os córregos ou rios, isto porque, somente 75% da população brasileira têm coleta de esgoto em casa, e desse número apenas 32% do esgoto recebe tratamento.


Construções ecologicamente corretas são cada vez mais comuns


Felizmente muitas pessoas, entidades, empresas e governos estão se
organizando para evitar que as construções sejam o pilar de um caos ambiental. Seja divulgando pesquisas e informações, promovendo padrões consistentes e educando, seja desenvolvendo produtos, certificando as construções sustentáveis ou agregando valor econômico ao espaço construído, estas organizações têm dado passos importantes.

Algumas das entidades que contribuem para uma melhora na qualidade de vida das pessoas, promovendo a defesa e preservação do meio ambiente, partindo de um princípio da consciência ecológica e responsabilidade social, são:

• IDHEA (Instituto para Desenvolvimento da Habitação Ecológica)
• Fupam (Fundação para a Pesquisa Ambiental)
• Ipema (Instituto de Permacultura e Eco vilas da Mata Atlântica)
• Ipec (Instituto de Permacultura do Cerrado)
• Green Institute
• ATA (Alternative Technology Association)

Em muitos países é possível encontrar conselhos para o desenvolvimento dos conceitos da construção sustentável, que orientam e discutem os padrões a serem seguido em cada lugar. No caso do Brasil, foi criado recentemente, o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, formado por acadêmicos, pessoas ligadas as áreas social e financeira, construtores e representantes de organizações não-governamentais.

• CBCS (Conselho Brasileiro da Construção Sustentável)
• USGBC (United States Green Building Council)
• CaGBC (Canadá Green Building Council)
• GBCA (Green Building Council Australia)
• Japan Sustainable Building Consortium

A certificação para as construções sustentáveis pode ser obtida por meio de algumas entidades que criaram métodos e sistemas de base que estudam e avaliam o impacto de projeto, construção e operação dos edifícios. As mais comuns são:

• BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method)
• LEED (Leadership in Energy and Environmental Design)

Ambas possuem métodos simplificados, facilmente formatados para serem utilizados pelo mercado e projetistas e vinculam o desempenho em formas de checklists, na qual a somatória de itens cumpridos elevam a categoria na qual o projeto se encontra. A primeira, britânica, é pioneira e serviu de base para as outras certificadoras. A segunda, de origem norte americana, foi desenvolvida pela ONG United States Green Building Council e é a mais popular, já utilizada em alguns projetos brasileiros.

Muito mais que levar em conta a preservação ambiental, as construções sustentáveis prezam pela salubridade dos ambientes, sendo assim o que é sustentável é saudável, protegendo os seus habitantes das enfermidades que o contexto externo pode trazer para dentro das edificações.

É muito comum nos dias de hoje, principalmente nas grandes cidades, encontrar edifícios mal projetados, subutilizados, com uma série de precariedades, abandonadas e ou mal geridas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu e catalogou como Síndrome do Edifício Enfermo (SEE) aquelas construções que se encontram com baixa e ineficiente dispersão de poluentes, alta umidade, má ventilação, descompensação de temperatura, uma péssima ergonomia e ou algum tipo de contaminação biológica ou química.

A SEE é uma das causas para que 20% da população mundial possuem algum tipo de problemas respiratórios, mal estar, irritações alérgicas nasais e ou oculares.

Em 1987, com o relatório Brundtland (O Nosso futuro comum) foi concebido o conceito de desenvolvimento sustentável, abrindo assim espaço para uma nova ramificação na arquitetura, que prega uma interação do homem com o meio, utilizando os elementos e recursos naturais disponíveis, preservando o planeta para as gerações futuras, baseado nas soluções socialmente justas, economicamente viáveis e ecologicamente corretas.

Algumas diretrizes a considerar para uma construção sustentável.

• Pensar em longo prazo o planejamento da obra
• Eficiência energética
• Uso adequado da água e reaproveitamento
• Uso de técnicas passivas das condições e dos recursos naturais
• Uso de materiais e técnicas ambientalmente corretas
• Gestão dos resíduos sólidos. Reciclar, reutilizar e reduzir
• Conforto e qualidade interna dos ambientes
• Permeabilidade do solo
• Integrar transporte de massa e ou alternativos ao contexto do projeto.

Existe muita discussão a cerca dos conceitos da construção sustentável. Primeiro que não é certo afirmar simplesmente que uma obra é ou não sustentável. A caracterização da sustentabilidade de uma construção vem do processo na qual esta foi projetada, executada e na somatória das técnicas usadas em relação ao entorno e lugar. Assim, é possível afirmar comparando com outro projeto que uma construção é mais sustentável que a outra.

Pensar em um edifício isolado não faz sentido quando tratamos de questões ambientais como a sustentabilidade dos espaços construídos pelo homem. Por ser sistêmica, a construção para ser sustentável deve ser elaborada em um contexto, o externo é tão importante quanto o que ocorre nas dependências internas. Por isso, a comparação é a melhor forma de avaliar uma construção sustentável, a obra nunca está sozinha.

Se um edifício cumprir todos os pré-requisitos técnicos, respeitar todas as normas éticas ambientais, apenas usar materiais adequados e mesmo assim se fechar para dentro, não condizendo com as necessidades do entorno, não se relacionando com o lugar na qual está inserida, abstrair as outras construções e pessoas que convivem próximo, não estará sendo sustentável.

Pode parecer complicado mas, não existe nenhuma obrigatoriedade de se cumprir todos os requisitos técnicos para uma construção ser sustentável. Caso contrário, as casas seriam todas iguais. Na verdade, as diretrizes são uma forma de orientar aqueles que pretendem construir de uma forma ambientalmente mais responsável.

Uma obra sustentável leva em conta o processo na qual o projeto é concebido, quem vai usar os ambientes, quanto tempo terá sua vida útil e se, depois desse tempo todo, ela poderá servir para outros propósitos ou não. Tudo o que diz respeito aos materiais empregados nela devem levar em conta a necessidade, o desperdício, a energia gasta no processo até ser implantado na construção e, depois, se esses materiais podem ser reaproveitados.

A auto-suficiência da edificação deve ser levada em consideração. Muitas vezes, alguma parcela da energia pode ser gerada no próprio lugar e a água pode ser reaproveitada, fazendo com que no longo prazo se obtenha uma economia considerável nas contas de luz e água. Geralmente a energia externa produz gases de efeito estufa em algum momento de sua produção. Em um contexto mais amplo, proporcionar a sua própria energia faz com que o edifício colabore com a redução destes gases.

Uma arquitetura sustentável deve, fundamentalmente, levar em conta o espaço na qual será implantada. Os aspectos naturais são de extrema importância para se projetar com estes fins. Se respeitadas, as condições geográficas, meteorológicas, topográficas, aliadas às questões sociais, econômicas e culturais do lugar é que definirão o quão sustentável a construção será.

Assim, algumas soluções aplicadas a uma construção no campo podem não ser sustentáveis em outra na cidade e vice versa. Por exemplo, na primeira hipótese pode se pensar em utilizar materiais do lugar (madeira, pedra, terra etc...), pois pode ficar muito caro optar por peças industrializadas, além dos impactos ambientais diretos e indiretos.

O Brasil com o tamanho continental engloba uma série de panoramas climáticos diferentes. Uma construção sustentável deve respeitar e aproveitar o clima na qual está inserida.

Abaixo algumas características que uma residência pode aproveitar de acordo com clima correspondente.

Obviamente como foi dito antes, os esquemas apresentados são somente algumas das inúmeras possibilidades de como uma casa pode ser. A forma, as técnicas e materiais podem e devem ser combinados da melhor maneira que convier; mais uma vez, uma construção sustentável não tem receita pronta, apenas diretrizes a serem levadas em consideração na hora de projetar.

A permeabilidade do solo deve ser um aspecto significante em um projeto sustentável. Proporcionar espaços livres, vegetados e permeáveis faz com que os ambientes que circundam o edifício sejam mais frescos, criando microclimas que aproximam a vida natural do edifício e dão vazão à água que se acumula no chão deixando os espaços mais salubres.

Pensando no transporte

O modelo de transporte na maioria das cidades está se tornando insustentável. Privilegiar o automóvel como forma prioritária desse sistema pode ter sido uma solução no passado, porém hoje, esta alternativa deve ser revista. As construções sustentáveis devem proporcionar uma integração com o sistema viário que auxilie cada vez, novas formas de chegar e sair dos edifícios. As construções sustentáveis devem ter em seu projeto uma integração que influencie cada vez mais as cidades, tomar como prioridade o uso adequado de transportes de massa e ou alternativos.

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